segunda-feira, 4 de maio de 2009

a semana



Esta semana é de comemorações. Aniversário de uma irmã, aniversário do pai e dia das mães.
Será a minha semana das lembranças familiares.
Começo por minha irmã.
Sou a terceira de três irmãs com uma diferença de seis anos da última.
Isso me fez uma observadora do que a vida poderia me oferecer por meio das agitações dessa minha irmã e de seus amigos.
Nos finais de semana a casa se transformava. Todas as amigas dela se empoleiravam no quarto para se arrumar para as festas.
O quarto me era proibido em outros dias, mas não nesses. Acho que meu rosto expressava tal embevecimento e alegria que minha pequena presença fazia com que todas se achassem protagonistas de um filme como aqueles que assistiam na sessão das nove e quinze do Inajá.
Eu ficava em um canto, sem direito a muitas falas, observando os cabelos tomarem forma por meio do vira para um lado e outro das toucas; das meias que trocavam de pernas na busca frenética por uma melhor combinação; das cores marcantes nos olhos; dos cintos largos feitos de verniz em cores limão; das gargalhadas animadas pela cerveja e a excitação de ser livre.
E ainda haviam os soutiens, tão lindos, tão recheados me fazendo sonhar com o dia que me deixariam usar um deles.
Era um universo repleto de deliciosas histórias - algumas que eu não entendia direito já que alguns significados me fugiam.
Á minha frente, na a vitrola portátil laranja, rodava o disco mais recente dos Carpenters, do Erasmo, do Chico ou da Clara Nunes.
Adorava aquele quarto envolto na fumaça de um único cigarro que passava por cinco ou seis bocas "sem batom para não manchar", partilhado às escondidas de meus pais e a com a minha garantia de que não falaria nada, sob a pena de nunca mais entrar por lá.
Risco que eu jamais correria.
Quando todas saiam para as festas eu ficava por ali mais um pouco, dona do lugar, me fazendo moça na frente do espelho, segurando um cigarro imaginário, dançando ao som do Roberto.
Eram dias de dormir com um sorriso nos lábios e as pestanas pintadas de azul cobalto, a cor da moda.

2 comentários:

Marta disse...

Que delícia Zaclis! Gostei tanto de saber dessas recordações!E o final emocionou-me! Tão lindo, o azul cobalto nas pestanas!!!

Eu, como sou a mais velha, não tenho essa visão! Mas, mais logo, já vou "obrigar" a minha irmã mais nova a falar :) :) :)

um beijo enorme para ti; outro para a aniversariante :)

Sonia Potrich disse...

Zac... que post lindo! Fiquei imagindo como era o lugar. Aliás, eu estava me vendo naquele ambiente, com aquelas meninas todas felizes se arrumando para sair. É muito engraçado porque até a fumaça do cigarro eu "via" no ar!

Fantástico!

Um beijão
Saudades