sábado, 26 de setembro de 2009

Eu disse que não gostei


- Não gostaste de Budapeste!? As palavras foram ditas lentamente, sílaba a sílaba.
Por favor, leia de novo na entonação correta.
- Não-gos-tas-te-de-Bu-da-pes-te!?
A pergunta veio em um tom de incredulidade acompanhado pelo juntar de sobrancelhas característico quando as coisas não agradam ao meu querido amigo MC.
- Não!
Respondi meio sem jeito, sem saber se estava fazendo a coisa certa, duvidando da minha certeza que até aquele momento era absoluta.
...
O olhar e o silêncio me chicotearam. Ele ficou tão pasmo que nem quis saber o motivo de tal disparate. Juro que tentei me recompor e procurei balbuciar alguma coisa decente, uma fala que justificasse a minha grave falta:
- Uga buga... !?
Mais um olhar silencioso, prestes a me defenestrar
- Não gostaste!? Agora era quase um lamento....
Droga, pensei. Será que eu li mesmo a porcaria do livro? Será que não gostei? Será que estou lúcida? Será que posso me enfiar num buraco?
- É que eu gosto tanto do Chico cantor que esperei mais do livro.
Falei a pérola em um tom de reconciliação, um pedido de desculpa por ter aberto a boca.
...
Outro olhar e meus pensamentos voavam desordenados:
Se eu desmaiar será que ele esquecerá essa conversa? Melhor não arriscar. Vou ser deixada na sarjeta, sem direito a piedade. Não lembro de nenhuma música do Chico. Será que o autor é o Chico? Será que o Chico canta? Sim! A banda! Como é mesmo? “Para ver a banda passar cantando coisas de amor...” ai ai. Porque ele não muda de assunto? Vamos falar dos autores portugueses que eu adoro. Não, melhor não! Vou dar outro bola-fora. Sorria meu bem. Se recomponha estúpida.

De volta ao Brasil e depois de muitos afazeres resolvi resgatar Budapeste da prateleira. Tirei o pó e hoje recomeço a lê-lo na tentativa de dar um palpite decente. Me aguardem.

3 comentários:

aveloh disse...

vou ler também, um dia desses, pra não te deixar sozinha no mundo, porque acho que não vou gostar. Gostei mais ou menos de Leite Derramado, mas Estorvo e o outro, Benjamim, parece, ne consigui ler.
beijão

PAS[Ç]SOS disse...

Gostar é uma certeza. Gostar não oferece dúvidas. Não gostar não é pecado, não é fragilidade, não é sinal de inferioridade. Não gostar é uma certeza tão transparente quanto o gostar. E se o não gostar for obrigado a gostar, algo se suja na transparência do sentir. … quando se gosta, gosta-se que gostem do que se gosta. Mas não há que gostar do que não se gosta pelo risco de se deixar de perceber do que realmente se gosta!

Horgh disse...

Olá, profª.
Não sou fã do Chico Buarque (cantor) como ouvinte, porém suas músicas são inteligentes a partir de um ponto de vista geral e perfeitamente audíveis num ambiente descontraído (um bar, por exemplo, ou numa reunião de amigos) e, talvez por isso, eu tbm tenha esperado mais do livro.
Não estou completamente habilitado a opinar a respeito por ter sido uma leitura rápida e sem atenção determinada pelo fator "falta de tempo" (Comecei a lê-lo na segunda pra fazer a prova do Laranja na quinta). De qualquer forma, vale uma releitura sem pressa.
Abraço.

Rodrigo.