quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Budapeste e o punctum



Continuei não gostando de Budapeste. A história tem um enredo interessante, porém não me tocou. Gosto das histórias que me obrigam a uma pausa para olhar ao redor de mim mesma. Foi assim com Faz-me Falta de Inês Pedrosa, por exemplo.
Relacionando a leitura de um livro com a leitura fotográfica penso no punctum.
“Aquilo que me fere, me punge”. Assim Barthes define o punctum. Um elemento da fotografia que provoca no leitor um instante de suspensão, de silêncio, de retorno ao interior ou então o obriga a uma pausa para olhar ao redor de sim mesmo.
O punctum é absolutamente individual e quando explicado revela uma porção generosa do leitor da fotografia.
Um exemplo de punctum para mim está nesta foto de Bresson. Embora possamos fazer uma análise sobre os elementos constitutivos da fotografia – o menino correndo, o relógio na parede, o real e irreal relacionado ao tempo congelado e expresso no movimento, etc, etc. O que me punge é a arquitetura do local. O meu punctum é os degraus da relojoaria. Essa foto me faz recordar da primeira sorveteria que meu pai teve na Nova Rússia, em Ponta Grossa. Eu devia ter uns cinco anos e lembro-me da entrada da loja onde passei bastante tempo saboreado as novas receitas daquele que se tornaria o melhor sorvete do mundo. O corredor que leva a uma porta ao fundo também faz parte de minha lembrança – havia uma porta à qual eu não tinha acesso. E o menino correndo, eu mesma entre a sorveteria e o hotel de meus tios ao virar a esquina.

Um comentário:

aveloh disse...

1 Zazá, você é mesmo uma delícia! Pois o meu punctum nessa foto-história, em que meergulhei de cabeça,é o homem que aparece de costas na porta da esquerda: não é o Maneco? tirando a última máquina daquele sorvete de uva inesquecível, ou o de morango, quem sabe o de coco, Deus do céu, o de coco!

2 A propósito de histórias, tua reação ao Budapeste (que ainda não li)tem a ver com a análise que o Alcides faz da obra do Chico (a literária): de que ela tem sempre um tom farsesco, justo por tratar fundamentalmente da inviabilidade, nos nossos dias, de uma narrativa, uma história mesmo, tal qual a concebíamos até poucos anos.