segunda-feira, 2 de junho de 2008

FOTOGRAFIA, ENSINO E CELULARES II



Aquele que dispara
Santaella ao refletir sobre o fotógrafo como agente, fala de um “campo semântico de uma caça compulsiva”
O operator empunhando a câmera é a figura que observa, escolhe, interfere, dispara e registra.
Cartier-Bresson dizia que “Fotografar é colocar na mesma linha de mira: cabeça, olho e coração”. Flusser observa aquele que dispara e também insinua a presença da caça e do espaço no qual esta se encontra: o espaço social
“Quem observar os movimentos de um fotógrafo munido de aparelho (ou de um aparelho munido de fotógrafo) estará observando movimento e caça. O antiqüíssimo gesto do caçador paleolítico que persegue a caça na tundra. Com diferença de que o fotógrafo não se movimenta em pradaria aberta, mas na floresta densa da cultura”. (p. 35)
Sontag diz que “Embora a câmera seja um posto de observação, o ato de fotografar é mais do que uma observação passiva”.
Á pretensa objetividade jornalística se contrapõe a subjetividade fotográfica. E quando os dois fazeres, o jornalístico e o fotográfico, se unem, o pensar sobre o fotojornalismo e, consequentemente sobre o ensino de fotojornalismo, não pode ser feito sem se buscar compreender o que impulsiona aquele que dispara.
André Kertész compreende a câmera como um aparato para compreender seu entorno. “A câmara é meu instrumento. Através dela dou uma razão a tudo que me rodeia”.
A busca por compreender e também denunciar a sociedade à sociedade, norteou o trabalho do sociólogo norte-americano Lewis Hine que disse: “Se eu pudesse contar a história em palavras, não precisaria carregar uma câmara”.
A fotógrafa Julia Margaret Cameron aponta para a questão do desejo de registrar o belo, dando ao ato de fotografar um caráter de captura, um impulso pessoal ao qual se condiciona o estético. “Desejei reter toda a beleza que surgiu à minha frente, e por fim o desejo foi satisfeito”.
O americano Edward Weston se apropriou do ato fotográfico e mistura a câmera com o olhar/escolha do fotógrafo em duas citações: “Mostrar-lhes aquilo que seus olhos insensíveis perderam” e “Velhos ideais desmoronam de todos os lados, e a precisa e indiferente visão da câmera é, e será cada vez mais, uma força mundial na reavaliação da vida”.
Continua...

Foto: Vila do Conde - Portugal

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