sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O importante no retrato não é a expressão, mas o silêncio






Essa frase do Bresson me acompanha sempre que vou fazer retratos - uma das categorias que mais gosto.
Fico pensando: será esse o momento do silêncio revelador?
Inquieta e perdida em meus pensamentos sobre o fotografado e sua história, espero o momento certo.
Por conta disso, um retrato que não possui nenhuma dificuldade técnica e poderia ser feito em menos de um segundo leva vários minutos. Finjo que arrumo foco, que ajeito a câmera. Sempre a esperar.
E então o silêncio surge de repente, um instante no qual uma vida toda passa pelos olhos do modelo, um lampejo no qual se vislumbram sonhos.
Foi assim com essas fotos.
Dia de desfile de carnaval em Curitiba. Chovia. Eu estava com muita preguiça de sair de casa, mas comprometida com um grupo de fotógrafos e um projeto de documentar o carnaval curitibano, lá fui eu. A chuva forte obrigou os carnavalescos e todos os malucos que estavam por lá a se abrigarem sob a marquise do palácio do governo. Das conversas com os integrantes do grupo de catadores reservo esses como os meus retratos preferidos.
A primeira foto surgiu como um pedido sem fala. Apontei a câmera e esperei. Dois, três minutos e então a pose, o vento e o silêncio, registrados em 125 avos de segundo.
A máscara um pouco caída captura minha atenção na segunda foto, junto com a vida parece jorrar dos olhos da modelo.
O olhar da terceira foto é repleto de mistério.
E o da quarta é uma indagação.
Qual a impressão de vocês sobre esses retratos?
Qual deles é o melhor?

4 comentários:

aveloh disse...

Zazá,
todas as fotos estão muito boas, mas sem dúvida o "silêncio" de que você fala foi plenamente capturado na terceira. Só não concordo com você que haja mistério nesse rosto; acho que o que se vê aí é uma espécie de "sombra da vida", principalmente nas rugas profundas (que são sempre muito belas) e no olhar baço, em contraste com o aparato carnavalesco.
A propósito ainda do silêncio no retrato, vi uma vez um documentário muito interessante sobre um fotógrafo famoso (Avedon, ou coisa parecida). Ele conta que sua técnica para capturar a verdadeira expressão do retratado
consiste em fotografá-lo quando está já desarmado, depois de dada por encerrada a sessão de fotos. O resultado é impressionante. Vale a pena ver esse documentário.
beijo

Victor Amaral disse...

Oi Zaclis. Todas as fotos estão maravilhosas, ainda mais após a leitura da sua interpretação da própria foto. Mas, a que me impacta mais quando passo rapidamente olhos em foto por foto é a terceira. Ela rouba a cena das outras. O olhar da senhora é chamativo demais. Ele não me permite olhar bem para os outros detalhes da foto. Ele me instiga a querer chegar em lugar que não consigo concretizar, seja do passado em que essa senhora viveu; toda uma história pode se passar pela minha cabeça em diferentes momentos que pegar pra ver essa foto. Excelente. Eu tamb´m estou gostando muito de fazer retratos. Como disse no início do texto, sobre Bresson, é o momento decisivo de se clicar definitivamente e captar o que queria, da mesma forma ou até mais surpreendente.
BjO

Dih disse...

Duas moças do início: esperança; transpirando juventude e o sorriso colado nos lábios.
Duas senhoras do final: como jah comentado, são retratos da vida. O que leio da expressão delas eh um labirinto de histórias, boas e ruins. O dia da foto foi aquela pausa pra respirar no meio da corrida. O dia de folga. Quando o samba as fez esquecer do que levam no coração.

Lina Faria disse...

Zaclis,
Será que nos conhecemos?
Não conhecia teu blog.
Sempre interessante saber a leitura de outros fotógrafos.
Tenho um pouco de medo dessas receitas de como retratar.
A surpresa, a novidade, é o segredo do retrato. Aquele quase nada que define a expressão da pessoa. A interação. O que quer passar, mesmo na surpresa, em resposta ao fotógrafo, mas o bom retrato é a surpresa de captar o que a hora lhe deu.
Eu acho.
Bacana seu espaço.
abç,
lina