- Não gostaste de Budapeste!? As palavras foram ditas lentamente, sílaba a sílaba.
Por favor, leia de novo na entonação correta.
- Não-gos-tas-te-de-Bu-da-pes-te!?
A pergunta veio em um tom de incredulidade acompanhado pelo juntar de sobrancelhas característico quando as coisas não agradam ao meu querido amigo MC.
- Não!
Respondi meio sem jeito, sem saber se estava fazendo a coisa certa, duvidando da minha certeza que até aquele momento era absoluta.
...
O olhar e o silêncio me chicotearam. Ele ficou tão pasmo que nem quis saber o motivo de tal disparate. Juro que tentei me recompor e procurei balbuciar alguma coisa decente, uma fala que justificasse a minha grave falta:
- Uga buga... !?
Mais um olhar silencioso, prestes a me defenestrar
- Não gostaste!? Agora era quase um lamento....
Droga, pensei. Será que eu li mesmo a porcaria do livro? Será que não gostei? Será que estou lúcida? Será que posso me enfiar num buraco?
- É que eu gosto tanto do Chico cantor que esperei mais do livro.
Falei a pérola em um tom de reconciliação, um pedido de desculpa por ter aberto a boca.
...
Outro olhar e meus pensamentos voavam desordenados:
Se eu desmaiar será que ele esquecerá essa conversa? Melhor não arriscar. Vou ser deixada na sarjeta, sem direito a piedade. Não lembro de nenhuma música do Chico. Será que o autor é o Chico? Será que o Chico canta? Sim! A banda! Como é mesmo? “Para ver a banda passar cantando coisas de amor...” ai ai. Porque ele não muda de assunto? Vamos falar dos autores portugueses que eu adoro. Não, melhor não! Vou dar outro bola-fora. Sorria meu bem. Se recomponha estúpida.
De volta ao Brasil e depois de muitos afazeres resolvi resgatar Budapeste da prateleira. Tirei o pó e hoje recomeço a lê-lo na tentativa de dar um palpite decente. Me aguardem.