quinta-feira, 30 de abril de 2009

Trabalhadores







Para comemorar o dia do trabalho, Sebastião Salgado e o livro Trabalhadores.
O livro de 1993 já debutou, mas é atual.
Fotografias não envelhecem.
A obra, que levou sete anos para ser realizada, reúne 350 fotos de trabalhadores de várias partes do mundo em 400 páginas.
Uma das características técnicas de Salgado que mais gosto é o seu trabalho em contraluz. Com isso ele ressalta as sombras e consegue uma profundidade muito interessante. Voltarei a falar sobre isso.

Histórias fotográficas



Toda fotografia carrega várias histórias.
Tudo começa com o fato em si e aquilo que o faz fotografável.
Depois vem a história do fotógrafo com o fato. São questões subjetivas que determinam a escolha do ângulo, da lente, do instante.
Há, também, a história do fotografado, quase sempre uma incógnita, repleta de inúmeras interpretações e que são, na verdade, as histórias dos leitores da fotografia.
Esta foto foi feita em Lisboa durante a copa do Mundo de 2006. No dia dois jogos: Portugal e Inglaterra e Brasil e França pelas oitavas de final.
Eu estava na praça das nações com milhares de outras pessoas. O jogo de Portugal foi ao meio dia e o time saiu classificado. Muitas pessoas comemoravam, principalmente brasileiros.
A foto mostra muito bem isso. A moça está esfuziante enquanto um rapaz com a camisa de Portugal no canto direito da foto caminha normalmente.
O Brasil perdeu o jogo contra a França e foi desclassificado, mas é essa a foto que marca a minha presença naquela copa.
A história dos fotografados? Inspire-se. É a história que você quiser.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

quando bate a saudade




Quando bate a saudade a casa se enche de sons portugueses.
Mãos generosas me apresentaram Carlos do Carmo, um maravilhoso fadista, no álbum À NOITE
Resolvi que deveria partilhar com vocês a música que mais gosto do cd:
Vem, não te atrases
Não a encontrei no youtube e minha quase nenhuma capacidade tecnológica me impede de colocá-la para que ouçam. Mas, segue a letra de Maria do Rosário Pedreira

Quando te apressas
E ne confessas
Que está na hora,
Eu não te digo
Que é um castigo
Ver-te ir embora

Finjo que a dor
Que sei de cor
Pouco me importa.
Mas, mal me deixas,
Sinto que fechas
Para sempre a porta.

Vem, não te atrases.
O que fazes
Sem mim, a esta hora?
Volta para os meus braços,
Eu já esperei demais.
Vem, não te atrases,
Eu perdoo-te a demora.
Se morares nos meus braços
E nunca mais me deixares.

Quando tu partes,
Faltam-me as artes
Para te prender.
Mas, se não estás,
Não sou capaz
De adormecer

Acendo estrelas
Pelas janelas
Da casa fria.
Mas, se não chegas,
Sinto-me às cegas
Até ser dia.

Mais mosteiro









incluindo o galinheiro do Dom Geraldo

terça-feira, 28 de abril de 2009

Pequenas dicas 9









Retratos e espaço vivencial
Já falei anteriormente que as pessoas revelam sua personalidade tanto através de sua aparência física, quanto da maneira como se relacionam com os elementos de seu espaço vivencial.
Em 2004 fui convidada para fazer fotos para um livro comemorativo aos 25 anos do Mosteiro da Ressurreição em Ponta Grossa. O mosteiro, da ordem beneditina, abrigava, na época, 30 monges em regime de clausura.
Para fotografar o cotidiano dos monges recebi autorização para entrar no claustro e participar de todas as atividades diárias. Até aquele momento às mulheres era permitido o acesso a algumas partes do mosteiro, todas externas ao claustro: capela, pousada, loja de artesanato e bosque. A exceção à entrada nas partes internas do mosteiro acontece durante a Páscoa, na qual a vigília ao Cristo morto é feita no Jardim do Claustro.
Armada com essas informações tomei o rumo do mosteiro. Em minha cabeça, um turbilhão de imagens desconexas de um universo que não conhecia e do qual as mulheres estavam excluídas.
No primeiro dia de fotos ficamos todos sem jeito, um pouco intimidados - eu com a presença silenciosa que me surpreendia e eles com minha presença-fotográfica.
Um dos monges, o mais velho deles - Dom Geraldo, 86 anos, 70 de mosteiro, foi o primeiro a me olhar nos olhos. E confesso, me rendi ao primeiro olhar.
Tive que aguçar os ouvidos para escutar sua fala suave e me deixei inundar por sua simplicidade. Com um aceno me pediu para segui-lo: fomos ao galinheiro, lugar preferido dele, depois da presença divina, claro. As galinhas não são para comer, mas para por ovos que dão sustento à cozinha aconchegante. Com um olhar manso me pediu desculpas pela bagunça do galinheiro - me conquistou, novamente.
Meus dias começavam às 4 da manhã – quando o sino bate chamando os monges para o primeiro ofício por conta disso eu ia dormir no mesmo horário que as galinhas de Dom Geraldo. Escurecia e lá ia eu para a pousada, onde além de dormir, fazia minhas refeições. Nos primeiros dois dias só podia entrar no claustro acompanhada por um monge que seguia silenciosamente meus passos fotográficos. No terceiro dia fui convidada a tomar café no refeitório.
Pela primeira vez na vida ouvi o som do café descendo goela abaixo, tanto era o silêncio dentro do lugar. Resolvi ceder ao meu estômago e fiz um pão em uma chapa, igual ao que os meus colegas de refeição faziam.
Aos poucos, comecei a receber um ou outro olhar curioso, questionador.
Mal sabia eu que o pão na chapa funcionaria como uma espécie de senha para a intimidade com aquele mundo masculino e silencioso. Fui aceita.
Minha entrada no claustro estava liberada e as conversas começaram a surgir. Rapidamente fiz ótimos amigos, irmãos, de verdade. Um dos monges me disse que eu conseguia arrancar deles coisas sobre as quais há muito não refletiam e lembravam. Que eu passei por lá como um vento fresco. Foi a mais linda declaração de amizade que recebi.
Fotografar é interessante por conta disso. Não recebemos somente a autorização para registrar as imagens, cedidas gentilmente, mas também recebemos passaporte para a intimidade ao mesmo tempo em que somos desnudados.
Tudo isso me ajudou a resolver uma questão: todos os monges tinham o mesmo espaço vivencial o que complicaria minha estrutura narrativa e diminuiria as opções de personalizar os retratos. Ao longo dos dias percebi que cada um deles embora partilhassem dos mesmos objetos e espaços, tinha uma maneira particular de fazê-lo. O resultado, portanto, traz um pouco da personalidade de cada um.

ps: na terceira foto Dom Geraldo estava preparando omeletes e fez questão que eu fotografasse a sua habilidade com a frigideira.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pierre Verger







Há um novo livro sobre fotografia
Pierre Verger - Fotografias Para Não Esquecer

Editado pela Terra Virgem o livro traz fotos em preto e branco feitas por Verger no Brasil entre 1940 e 1950.
A seleção é de Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca.

Veja e leia



Veja é hoje a revista de maior circulação nacional e a quarta revista semanal do mundo, superada apenas pelas americanas Time, Newsweek e U.S. News & World Report.
Sua primeira edição foi publicada em 11 de setembro de 1968(foto).
Em comemoração aos seus 40 anos a editora abriu seu acervo que pode ser consultado na íntegra no seguinte endereço: http://veja.abril.com.br/acervodigital/

Ela já foi considerada uma revista de esquerda.
Hoje, não é quente nem fria - e por muitos pode ser vomitada, seguindo o conselho de um provérbio bíblico para as coisas mornas.
A impressão de que está alinhada ao que lhe for mais conveniente já pode ser visto em um primeiro passeio por suas capas.

A matéria de capa da primeira edição tem como título
Rebelião na Galáxia Vermelha
A todo custo, a Rússia pretende ser, ainda e sempre, o sol

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Nossas “coisas”, “coisas” deles

O seguinte texto foi publicado por Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo

Do deputado Jovair Arantes (GO), LÍDER DO PTB NA Câmara, sobre a divulgação de gastos de deputados pela internet: “Não quero ser obrigado a colocar minhas coisas na internet”.
Suas coisas, uma ova, deputado. Todas as “coisas” relativas ao seu mandato são de propriedade do público. Você é apenas o representante do eleitor, não o dono das “coisas”, dinheiro incluído.
Mas é essa mentalidade porca que leva aos privilégios de que gozam os pais da pátria, que já são imorais, e, pior, ao abuso até dos privilégios imorais. Para os nobres parlamentares, não há abuso, posto que as “coisas” são deles, e cada um faz o que quiser de suas “coisas”.
Aí vem o deputado ACM Neto (DEM-BA) com a comprovação de que todo mundo, no Congresso, acha que as “coisas” são dos congressistas, tanto que afirma, com a cara-de-pau típica, que “a Casa toda fez”, em alusão ao abuso na utilização de passagens aéreas (ele é um dos abusadores, pois viajou com a mulher para Paris).
À cara-de-pau o deputado soma a calhordice de achar que “a imprensa quer fechar o Congresso”.
Diga-se que a família Magalhães entende de fechamento de Congresso: ele é apenas o mais jovem membro de uma dinastia que apoiou gostosamente a ditadura militar, que, esta sim, quis – e conseguiu – fechar o Congresso mais de uma vez.
À falta de memória do jovem Magalhães soma-se a mentira. Quem quer fechar o Congresso são os próprios congressistas. Primeiro porque se tornaram absolutamente inúteis, na medida em que são meros carimbadores de iniciativas do Executivo. Segundo porque tudo o que produzem, cotidianamente, é essa imoral confusão entre as “coisas” do público e as “coisas” deles, parlamentares.
Só se nota que o Congresso está aberto é pelo noticiário policial que produz.


Folha de S. Paulo,23 de abril de 2009. A2, Opinião

vai fazer falta


Morreu Otto Stupakoff.
Otto fotografou de tudo. Desde Nixon, passando pela guerra do Vietnã até moda - seus trabalhos mais recentes.
Ele tinha uma narrativa estética muito peculiar e interesse específico pelas pessoas. "Fotografar gente importante não quer dizer nada, porque fazer fotos sensacionais de gente famosa é mais fácil", costumava dizer.
Para ver mais do fotógrafo e sua técnica há um livro: Otto Stupakoff, lançado pela Cosac Naify em 2006.

há tanta coisa para olhar



Os fotógrafos são muito observadores. Eu, particularmente, posso ficar horas em silêncio, só de "butuca", como dizem no interior, olhando o povo passar, imaginando sobre suas vidas, tentando ler seus pensamentos...
Aqui me deparei com minhas alunas em um momento interessante. As três estavam comendo jabuticaba na pracinha de Morretes. Logo atrás, um vendedor de bolinhas de sabão.
Relacionei: bolinhas, jabuticaba, olhares, ... pronto!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Pequenas dicas 8








Os retratos estão dividios basicamente em duas categorias: formais e informais.
Os retratos formais são aqueles no qual o fotografado se coloca à disposição da câmera - fotos de documentos, por exemplo.
Já os retratos informais são mais amplos.
Neles pode haver, ou não, interação entre fotografado e fotógrafo.
Algumas vezes o retrato é feito sem que o fotografado perceba, e em outras ele olha diretamente para a lente.
Há retratos feitos em espaços vivenciais - local de morada e/ou trabalho do modelo.
Há retratos que levam dias para chegar ao ponto certo - há uma necessidade de vivencia entre fotógrafo e fotografado.
Aqui, uma série de retratos informais.
Quatro deles foram feitos em locais públicos e três em ambientes particulares.

Na próxima dica falarei somente sobre retratos informais em espaço vivencial.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Eu quero é ser feliz



Araucária no final de uma tarde de outono, para comemorar o Dia da Terra.

Pequenas dicas 7




Escolhendo um tema
A escolha de um tema para reunir uma série de fotografias parece ser um exercício difícil mas não é. Qualquer tema pode surtir um efeito interessante. Via de regra, os temas mais simples são os que causam maior efeito.
É interessante quando escolhemos um assunto e vamos trabalhando aolonfgo do tempo. Um projeto temático pode levar anos ou pode ficar sempre em construção.
As três fotografias deste post apresentam parte de um projeto que tem como tema a geometria de escadas.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Pequenas dicas 6







ESPAÇO FORA DE CAMPO

Existe na fotografia um espaço que está fora do campo fotográfico. Isto é, vai além das margens da fotografia. Pode ser pela projeção de um espelho, a condução de um olhar, o recorte de parte de um elemento, um ponto de fuga.

Aqui exemplos de espaço fora de campo:

A primeira foto foi feita nas ruas do Porto. É um recorte em contraluz. A idéia é brincar com o movimento ritmado dos passantes e deixar as perguntas: quem são eles? Estão juntos? Que outras características comuns possuem?

A segunda foi feita em Barcelona. Dubois chama este espaço fora de campo por incrustação - é um espaço virtual, que está atrás do fotógrafo e é refletido no espaço real. Neste caso, somente a janela e os lustres dentro dela fazem parte do espaço real; a moça, a estátua e os prédios estão no espaço virtual.

A terceira, também feita em Barcelona, é um recorte. A asa em primeiro plano seria a do vulto no terço superior esquerdo da foto?

A quarta, feita em Morretes, é a mais simples do conjunto. A câmera aponta para algo. O quê?

A última, feita em Compostela é a mais sofisticada em termos de composição. Possui um espaço real no qual há uma fuga por meio do olhar da moça em primeiro plano. Depois há um espaço virtual no qual há outra moça olhando para cima, outro ponto de fuga.

O autor que melhor explora o espaço fora de campo, ou espaço off é Philippe Dubois, no livro O Ato Fotográfico

(re) lendo


Na arrumação da estante um livro para reler: Me Alugo para Sonhar.

Gabriel García Márquez se reúne com alunos da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, Cuba, para desenvolver uma história a partir de idéias dos alunos.
O livro narra em tom didático a construção do roteiro e tem comentários de Doc Comparato.

Um dos diálogos:
García Márquez - Uma coisa me assusta. Você não aceita um milagre, mas aceita dezessete.

Doc - Mas se ela é uma morta-viva...

García Márquez - Só você achou que Alma é um ser sobrenatural. As pessoa só morrem para sempre na vida real. Na literatura a gente pode fazer o que quiser. Para isso alguém inventou a literatura: para desafogar todos os seus desejos.

Doc - É verdade. Mas isto aqui é um roteiro.

García Márquez - Esses são limites racionalistas que me atemorizam, porque emtão não podemos fazer nada. Nem mesmo os sonhos!

Doc - Mas os sonhos são reais.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Outono


O outono teima em me dar dias assim: raios de sol que exigem seu espaço entre nuvens carregadas.

A foto foi feita perto de Iataiacoca. Havia um pequeno lago refletindo a briga entre luz e sombra. Fiz uma fotometria pontual no ponto mais escuro para dar mais densidade à imagem.

domingo, 19 de abril de 2009

pequenas dicas 5







Ponto de Vista
Temos a tendência de fotografar tudo aquilo que nos agrada. Porém, ao fazermos impensadamente corremos o risco de ter fotos sem atrativos, ou com sobra de elementos. A procura por um ponto de vista diferenciado, começa pelo movimento que fazemos ao redor do tema.
Fotografar no nível dos olhos nem sempre é o melhor.
Para fazer fotos diferentes, devemos buscar ângulos aos quais nossa postura bípede não está acostumada ou recortes que direcionem o olhar do leitor.
A primeira foto foi feita na praia do Mole em Santa Catarina. Eu estava deitada sob o guarda-sol observando o movimento quando percebi o carrinho de sorvetes se aproximar. Abri um pouco mais de espaço na areia, saquei a câmera, medi a luz e cliquei.
As outras três foram feitas durante o Festival de Bonecos, em Curitiba.
Na primeira procurei enquadrar o palhaço com pernas de pau em contraponto com o boneco gigante que vinha logo atrás.
Na segunda, trabalhei com a perspectiva. Coloquei em primeiro plano a tela que transmitia uma peça que estava sendo encenada. No segundo plano há pessoas vendo algumas estruturas de grandes bonecos e, por último, alguns prédios iluminados.
Na terceira, optei por um recorte que desse uma certa graça à cena. Vi as duas pessoas rindo de algo que acontecia atrás de mim. Gostei do fato de ambos estarem de braços cruzados e da repetição do sorriso da menina com o do anjo. Tive que me deslocar um pouco para enquadrar melhor e recortar a cabeça do primeiro plano, e os olhos do segundo.